terça-feira, 3 de julho de 2012

A questão do estigma na complexidade do desenvolvimento humano

Texto baseado nas vídeo-aulas da Profª Ticiana Melo de Sá Roriz e Profª Kátia Amorim (USP de Ribeirão Preto), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).
 
O desenvolvimento ocorre ao longo de todo o ciclo vital, por meio das interações estabelecidas pelas pessoas, em contextos sociais e culturalmente organizados. Tais processos também acontecem nas esferas biológica e psicológica.
Para tanto, existe a necessidade da presença de mediadores (familiares, professores e outras pessoas do convívio direto ou indireto). Sua concretude, no cotidiano escolar, se dá nas práticas de cuidados e educação, dependendo da frequência e tipo de contato, da forma como se manipulam as crianças, dos locais em que estas são colocadas, da posição do adulto com relação à criança e da relação que estabelecem entre si. Esses processos também dependem de como as crianças são introduzidas umas às outras e demais pessoas, além do grau de autonomia que se permite e como interceder em situações de dificuldade.
Essa evolução está ligada ao nível do entrelaçamento de pessoas e significações, os quais promovem práticas sociais, delimitam zonas de atuação na interação e impulsionam em determinadas direções e aquisições, ao mesmo tempo em que distanciam, ou mesmo impedem outras.
Assim, por princípio, é impossível prever o produto final do comportamento de cada indivíduo, afinal, dentre os vários percursos em potencial, alguns não serão percorridos, onde habilidades e capacidades não virão a ser desenvolvidas em sua plenitude. Existirão aquisições iniciadas, mas perdidas diante de novas situações, e percursos que nunca serão colocados como possibilidades.

Um dos motivos para essas perdas (naturais ou não), nestes processos, é o risco do estigma, pois as características individuais de cada pessoa podem ser exaltadas ou não: há alguns atributos que são mais valorizados em detrimento de outros.
Erving Goffman
Citando o sociólogo canadense Erving Goffman (1922-1982), a Profª Ticiana Roriz (USP-RP) aponta o estigma como uma "situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena". Ainda de acordo com Goffman, um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social possui um traço que pode se impor à atenção das pessoas, e afastá-las, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos. Dessa forma, "é preciso uma linguagem de relações, e não de atributos. (...) Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, ele não é em si mesmo, nem honroso e nem desonroso".
Ainda neste pensamento, é necessário diferenciar o estigmatizado desacreditado (que possui característica distinta evidente) do desacreditável (de característica que não é imediatamente perceptível). Além disso, tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original, e erros menores ou enganos incidentais são interpretados como uma expressão direta de seu atributo diferencial estigmatizado. Por outro lado desses equívocos, também os menores atos são tidos como sinais de capacidades notáveis.
No ambiente escolar, de muita diversidade, existe o constante risco de estigmatizar, e expandi-lo para os demais. Até mesmo a maneira de se referir às pessoas (terminologia) reforça os estigmas e influencia as práticas nesse sentido. No caso dos adultos, essas informações servem de alerta, para a observação da postura que se tem diante das crianças e jovens educandos.

Eduardo Carvalho
Polo de Praia Grande


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